quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Juvenal

( Lendo alguns dos textos na página da Tati Bernardi, resolvi escrever o texto abaixo )

Juvenal era um menino normal, se comparado aos noticiários que sempre lhe pareciam coisa de outro mundo. Normal e submisso àquelas notícias do dia-a-dia, Juvenal acordava todos os dias e estudava e trabalhava.
Era menino responsável. Aliás, sempre fora!
Garoto de família, com princípios e educação básicos - nada exagerado, nada britânico.
Sua idade era 2 décadas seu nascimento e mais um pouco; o pouco que ele achava muito e que ás vezes achava pouco porque segundo ele, a bagagem que carregou durante a existência sempre foi ou muito ou pouco distribuída às duas perfeitas pernas que lhe foram concebidas.
Pernas estas que lhe carregavam para onde quer que quisesse ir, seja no concreto, seja no abstrato.
Tinha desejos baseados na carne e baseados no objeto, assim como qualquer outro garoto normal e era um objeto feito de carne ou uma carne feita de objeto; dependia de quem almejava a carne, ou de quem o via como objeto.
Ás vezes se sentia tão superficial que preferiria voltar a ser feto. Ás vezes se sentia tão superior que poderia ocupar qualquer trono real de qualquer universo que fosse, mas nunca deixou que isso o afetasse nem para mais, nem para menos.
Acordava pedindo por dias melhores... dormia agradecendo e com esperanças de novamente outro nascer, outro suspiro que carregasse o sangue que corre nas veias e que bombeia o seu coração. Ouvia músicas que acalentavam seus pensamentos... e músicas que o faziam viajar sem ter que sair do chão, a não ser para arriscar um passo ou outro no balanço do compasso descompassado.
Era um garoto normal, exceto por uma coisa: o “Pseudo-verdadeiro”.
Achava que tudo era “Pseudo-verdadeiro” - vocábulo que ele mesmo inventou para designar a massa de formigas que seguiam por um só caminho, procurando apenas por comida e que no fundo no fundo (do formigueiro), sempre haveria uma mãe, a rainha de todas as formigas na qual deveria ser servida. Algo tão robótico, tão ensaiado, que não aceitava de maneira alguma que aquilo fosse chamado de vida. Mas aceitava que fosse carinhosamente chamado de EGO.
Era assim que ele se via em meio à massa – homogêneo e submisso.
Submisso claro! “- Essa massa de Maria-vai-com-as-outras !”, resmungava sempre ele...
O pior é que ele seguia as Marias mesmo sendo Juvenal; mesmo sendo educado; mesmo sendo responsável; mesmo sendo normal.
Sua vida era normal, sua casa era normal, até seu nome era normal demais. E ele ás vezes se sentia cansado disso, mas nada fazia porque senão iria ser diferente e ele não queria.
Não queria ser visto como aberração.

Pelo menos pelo lado de fora.

domingo, 9 de setembro de 2007